terça-feira, 20 de outubro de 2009

A volta do anzol

Ela esperou. Esperou vê-lo na festa. Tinha certeza de que ele estaria lá. Toda a cidade estava. Dançava para passar o tempo, as músicas se seguindo. Ela estava certa. Ele cruzou seu caminho. Solitário, ao vê-la parou. Beijaram-se, amigos que fingiam ser. Mas os olhares eram os mesmos. E as atitudes também. Ele continuava indo e vindo, ela na espera de uma palavra, que não veio. Cansada de tantas noites em vão, ela despede-se fria. Ela havia avisado a ele que o amor era como um vaso de porcelana, depois que se quebra, mesmo que os pedaços sejam colados com cuidado, não é mais a mesma coisa. Ficam faltando lascas e o excesso de cola aparece. Ele teria que tomar uma atitude esta noite, ou então seria tarde demais. Ela sabia que vaso ia se quebrar. Ele não acreditou na possibilidade, mente confusa que era e se afastou. Ela retomou a dança. Música para ela era um bálsamo. Take every pain from the inside and throw it all away…, ela faria isso, jogaria tudo fora. Havia um rapaz interessante em seu grupo. Os olhares começaram a surgir, sorrisos e gentilezas. A corte. Sua mente voltou-se para seu amigo perdido. Pensou que seria tão bom se ele a visse com outro. Ele sentiria o que ela sente, o abandono, o descaso, a sensação de não compreender as atitudes. E aprenderia como não agir com os corações alheios. E lá estava ele de volta. Chega, sorri e beija-lhe o pescoço com a mão em suas costas. Ela ensaia um sorriso. Será que ele vai querer retomar tudo novamente? Não. A vontade fraca estampada em seus olhos, o medo de ser feliz não permitiam. Parecia que ele queria que ela estivesse ali esperando por ele, estava demarcando território. Ele não tinha coragem de tomar posse, mas queria que todos soubessem que ele era o dono, ou pelo menos achava que era. Em seu pensamento, ela era dele, e com aquele sorriso ele havia conseguido tocá-la de novo, trazê-la de volta, mantê-la prisioneira do olhar. Ilusão ou engano? Perdido, ele se afasta, para desencavar na mente alguém que não o deseja. Perambula pelo salão olhando o nada. Ela decide, não vai mais esperar. Ele vai saber que ela é uma alma livre, que por opção estava quieta, esperando. Agora ia voar. Abriu a guarda e deixou que o outro rapaz viesse. E entre beijos e abraços, surpreendeu-se feliz. Mesmo que fosse por momentos, estava tendo o carinho de um homem. Mãos e bocas não se largaram mais, e a alma, se refazendo, enchia seu coração de brilho. Nada mais importava. Havia rompido a barreira. Estava livre novamente. O amigo perdido olhou para ela, mas não viu seu olhar. Deixou a festa, com uma lição na bagagem. Ela lembrou-se da frase da amiga: É a volta do anzol, vem para todos.

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