segunda-feira, 30 de novembro de 2009

É hora?

É angustiante você não estar em sintonia com quem você gosta. Gostar tanto de alguém que não te retribui nada do que você faz tanta questão de demonstrar. Como conseguir ficar do lado dessa pessoa? Sentir o cheiro, dar abraços, acompanhar o movimento de seus lábios enquanto fala e ri e ter que controlar a vontade absurda de beijá-lo o tempo todo. Se submeter a longas conversas que atravessam a madrugada, enquanto sente o coração palpitar desesperadamente só para conseguir um único beijo de despedida as seis horas da manhã. Viver procurando seu olhar na esperança de conseguir pelo menos um minuto de sua atenção. Ficar perto de alguém que se mantém tão distante de você. Controlar as mãos que querem a todo custo afagar seus cabelos e passear pelo seu rosto, braços, pernas e costas. Esperar por um abraço que pode vir a qualquer momento, mas quase nunca vem. Esperar por algo que você nem sabe o que é. Passar os dias pensando em como vai conseguir encontrá-lo. Ansiar por telefonemas e convites. Ignorar aqueles que têm admiração por você, por alguém que não consegue enxergar quem você é de fato. Ansiar pelo dia em que finalmente tal pessoa resolva te acolher e te deixar fazer parte da sua vida, ao invés de te fazer sentir alguém insignificante. Por que insistir tanto em algo que você nem sabe se existe? Tem coisa mais angustiante e destrutiva do que isso? Por quanto tempo alguém se mantém numa situação dessas? E como saber se já é hora de desistir?

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

In Concreto

Você só vê o muro de cima
Eu já estou do lado há muito tempo
Já quebrei os tijolos
Já desfiz o cimento
Já descasquei a tinta
Já alastrei os rachados
Quando você vai pular daí?

domingo, 25 de outubro de 2009

Rotina

Alguém sempre de bem com a vida. Assim era. Sempre sorridente, prestativa e de bom humor. O que ninguém sabia é que tinha uma única coisa que a tirava do sério. Algo que a transformava em um ser completamente irritado e estressado. Seu trabalho. Seu ganha pão a fazia sentir numa tensão pré-menstrual constante. Uma tensão que durava antes, durante e depois. Qualquer coisa a aborrecia quando tinha que trabalhar. Era o clima da cidade. Era o trânsito que nunca andava. Era o telefone que não parava de tocar. Era o sapato que lhe doía no pé. Era o tenso dia de trabalho. Pensava: “Mas que diabos é isso?”. Não se considerava um ser irritado, ou de fácil irritação. Pensava sempre em ir ao médico, como quem não tivesse nada a fazer. Pensou ser até ser uma boa desculpa para faltar ao trabalho que a estressava, mas logo pensou no trânsito que iria ter que enfrentar. Já se irritou. Pensou em ligar para seu chefe, sabia que ia levar bronca por isso. Irritou-se sem necessidade outra vez. Se ficasse em casa, teria que explicar a situação aos que estivessem por lá. Explicação que ninguém iria compreender. Deixou de lado. Muito trabalho para não ter que ir ao trabalho. Acordou 6h com o despertador gritando. Começou a transformação de humor. Foi resmungando sozinha durante todo o trajeto do ônibus. Amaldiçoou o sol e o estado de negligência do transporte público. E se arrependeu de não ter saído mais cedo e não ter conseguido lugar para sentar. Chegou sem vontade nenhuma e atravessou o portão. O grande portão. Ali acontecia sua oficial mudança de humor (para o mal). Bateu seu ponto e logo foi recebida com um “Tem milhões de coisas para você fazer!”. Respirou fundo e sorriu, mas ao mesmo tempo pensava “E quem te perguntou???”. Sabia que seria mais um típico dia estressante. Telefonemas, demandas, missões, missões e missões intermináveis. O relógio nunca andava, apenas os aborrecimentos, que mudavam de setor a setor. Pensava se demissão seria uma boa idéia. Queria uma vida calma, tranqüila, sem preocupações. Mas como ter uma vida assim, sem o dinheiro que vem do trabalho? Voltou pro seu beco sem saída. Continuou seu relacionamento com seu fax, telefone e computador. Os documentos se acumulavam junto com seu mal humor. Pensava que nunca ia conseguir voltar pra casa. “Droga, ainda tenho que voltar pra casa!”. Trabalhava muito e ganhava pouco. Vivia num ciclo vicioso, que não dava em nada. Sentia-se um robô, comandada por todos, com funções programadas. Não era feliz ali. Vivia para o trabalho que odiava. Trabalhava pensando na hora do almoço, hora em que podia ignorar a todos e sentar sozinha por 30 minutos. “Finalmente minha hora de descanso!”, pensou. Hora essa que não aconteceu. Seu chefe ligou pra que ela resolvesse broncas que nem eram delas. Ficou com fome. Desistiu de comer quando viu que já eram 16h e ainda estava longe de parar pra descansar. O roncar do estômago já era sua trilha sonora, que vinha acompanhado com o falatório de todos que a cercavam. Isso a irritava. É, odiava seu trabalho, odiava todos dali. Odiava o cinismo, a má vontade e a falsidade de todos. 18h. Fim de expediente! Atravessou o portão mais uma vez. Desta vez para o lado de fora. Sua transformação de humor começava a reverter. Mas ainda amaldiçoou o ônibus cheio e as pessoas mal educadas em seu caminho. Finalmente seu destino, em casa. Ali era oficial. O mal humor ficou lá fora. Tomou banho, comeu, assistiu a novela e foi dormir. Sem reclamar nada. Aconchegou-se no travesseiro e colocou o despertador para tocar às 6h. Tinha que trabalhar no dia seguinte.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Conexões

Eram dois amigos. Sempre foram. Compartilhavam histórias de amores conquistados e perdidos. As conversas longas fluíam sem bloqueios, sem medo das opiniões alheias. Apenas troca de idéias como forma de passar o tempo. O mundo dos dois era quase que completamente virtual. E assim tudo funcionava bem, na medida certa. O tempo passara e os encontros começaram a também ser reais. Era uma nova experiência. Sem teclados mascarando vontades. Sem telas camuflando desejos. Virara carnal. Aquilo era verdade, muito melhor. Estavam disponíveis. Haviam se adicionado. As conversas eram melhores, o toque, o convívio, o cheiro, tudo. Era mútuo. Era mais que isso. E assim como uma boa conexão deve ser, o mês passou correndo. Porém, o mundo virtual que finalmente havia virado um mero detalhe, voltou a ser algo rotineiro. O real passara a se ausentar. O que era mágico, agora se via ocupado. De um lado, ela ainda navegava em sua rede. De outro, ele começara a fechar todas as janelas. De repente, falha na conexão. Era mais que perceptível. O virtual também deixara de existir. Toda afinidade conquistada era ignorada por ele. Tornaram-se dois desconhecidos. Desconectados. Excluíram-se. Bloquearam-se. Agora estão off line.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A volta do anzol

Ela esperou. Esperou vê-lo na festa. Tinha certeza de que ele estaria lá. Toda a cidade estava. Dançava para passar o tempo, as músicas se seguindo. Ela estava certa. Ele cruzou seu caminho. Solitário, ao vê-la parou. Beijaram-se, amigos que fingiam ser. Mas os olhares eram os mesmos. E as atitudes também. Ele continuava indo e vindo, ela na espera de uma palavra, que não veio. Cansada de tantas noites em vão, ela despede-se fria. Ela havia avisado a ele que o amor era como um vaso de porcelana, depois que se quebra, mesmo que os pedaços sejam colados com cuidado, não é mais a mesma coisa. Ficam faltando lascas e o excesso de cola aparece. Ele teria que tomar uma atitude esta noite, ou então seria tarde demais. Ela sabia que vaso ia se quebrar. Ele não acreditou na possibilidade, mente confusa que era e se afastou. Ela retomou a dança. Música para ela era um bálsamo. Take every pain from the inside and throw it all away…, ela faria isso, jogaria tudo fora. Havia um rapaz interessante em seu grupo. Os olhares começaram a surgir, sorrisos e gentilezas. A corte. Sua mente voltou-se para seu amigo perdido. Pensou que seria tão bom se ele a visse com outro. Ele sentiria o que ela sente, o abandono, o descaso, a sensação de não compreender as atitudes. E aprenderia como não agir com os corações alheios. E lá estava ele de volta. Chega, sorri e beija-lhe o pescoço com a mão em suas costas. Ela ensaia um sorriso. Será que ele vai querer retomar tudo novamente? Não. A vontade fraca estampada em seus olhos, o medo de ser feliz não permitiam. Parecia que ele queria que ela estivesse ali esperando por ele, estava demarcando território. Ele não tinha coragem de tomar posse, mas queria que todos soubessem que ele era o dono, ou pelo menos achava que era. Em seu pensamento, ela era dele, e com aquele sorriso ele havia conseguido tocá-la de novo, trazê-la de volta, mantê-la prisioneira do olhar. Ilusão ou engano? Perdido, ele se afasta, para desencavar na mente alguém que não o deseja. Perambula pelo salão olhando o nada. Ela decide, não vai mais esperar. Ele vai saber que ela é uma alma livre, que por opção estava quieta, esperando. Agora ia voar. Abriu a guarda e deixou que o outro rapaz viesse. E entre beijos e abraços, surpreendeu-se feliz. Mesmo que fosse por momentos, estava tendo o carinho de um homem. Mãos e bocas não se largaram mais, e a alma, se refazendo, enchia seu coração de brilho. Nada mais importava. Havia rompido a barreira. Estava livre novamente. O amigo perdido olhou para ela, mas não viu seu olhar. Deixou a festa, com uma lição na bagagem. Ela lembrou-se da frase da amiga: É a volta do anzol, vem para todos.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Nublado

O céu vivia nublado
Chuvas torrenciais
Alagamentos perturbadores
Prisão embaixo de lonas

De mansinho
Você trouxe o sol
Um ardor ultravioleta
Que penetrou na minha pele

Nem precisei de bloqueador
Deixei queimar essa felicidade
Escurecendo minha cor
Trazendo enfim uma nova camada

De repente outra nuvem
Uma pele descascada
Escuridão a vista
Céu avermelhado

Acho que vai chover...